Quando me despertei, era por volta das quatorze horas,
sentia fome demasiada, me levantei de prontidão com minhas pálpebras engomadas
uma sobre a outra me dirigi ao banheiro. O banheiro era frio, e mesmo morando
sozinha me trancava dentro do banheiro, para que a solidão dos outros cômodos
não me tirasse a privacidade, mesmo de dia, a casa era escura, faltavam meios
com que a luz adentrasse, porém para mim era o suficiente, os raios solares que
invadiam o banheiro eram o bastante para que eu pudesse ver meu rosto deformado
por horas seguidas com o mesmo pressionado contra o travesseiro, notava também
meu cabelo espalhado por toda minha cabeça, sem forma alguma, apenas caos.
Decidi então tomar banho, banhos sempre foram momentos íntimos,
não apenas por estar nua, no banho, eu estava sozinha, despida de roupas, de
preceitos, e influências, era um dos momentos mais profundos de introspecção
intimista, onde eu poderia ser eu mesma comigo mesma, banhos eram longos, me
sentia extremamente bem com a água quente acariciando minha pele delicadamente
do pé até minhas goteiras, e assim como a água caía, eu me afogava em
pensamentos, e por ampla consciência ambiental, fechava a torneira, e me
secava.
Saí do banho, comecei a me aprontar, deveria entregar
minha crônica ao jornal até ás dezesseis horas, eu trabalhava para um jornal
local, onde publicava crônicas em dias intercalados, foi uma vaga que consegui
por influência de minha mãe, que costumava a ocupar um dos cargos mais altos no
jornal. Como estava indo entregar meu trabalho, me vesti de forma em que
parecesse mais arrumada, geralmente me vestia como me convinha, mas sempre tratava
de parecer mais cuidadosa quando ia ao jornal, pois era meu sustento. Já tinha
tudo em mente, iria me alimentar, e ir ao jornal em seguida, tudo planejado,
terminei de me arrumar, peguei as chaves, carteira, maço de cigarros, minha
pasta, e desci. Na rua me sentia nauseada ao olhar para o prédio da calçada,
suas paredes agora pareciam escarlates, me lembrara de tudo o que acontecera na
noite passada, e sentia certas dores nas têmporas, com a mão na cabeça comecei
a me afastar lentamente do prédio, até que tomei outra rua.
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