quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Continuação, sem filtragem.

Agora com o cigarro aceso, caminhava para o parque, gostava de ficar com o mesmo por um tempo parado na boca sem tragar, então o tragava forte, e com a mão esquerda o tirava da boca, o que me era estranho, tendo em vista que eu sou destra, o levava até a altura da cintura e batia as cinzas suavemente, e mantinha a fumaça em minha e boca brincando com ela, até que a expelia lentamente, eu a gostava de ver subir e desaparecer, e fui assim, tragando até chegar no parque. O parque não era nenhuma maravilha, ficava em frente à catedral, possuía alguns bancos com tinta desgastada, uma fonte no centro, alguns brinquedos na areia para crianças, e tinha boa parte coberta por uma grama sempre bem aparada, possuía também algumas árvores com folhas dissipadas em seus galhos, já que a maioria se encontrava no chão, pois a chuva as levara para lá, fui caminhando pelo parque através de folhas e gramas molhadas e restos de industrializados até um banco que me dava visão completa da catedral, sentei nesse banco onde eu podia observar de longe a missa, e acendi um cigarro, usando o fósforo na mão esquerda também, me sentia uma a anticristo, vilã dos bons costumes, impondo meus valores imorais e imundos em frente a uma catedral.
 Comecei a fitar a igreja, e de minha distância eu podia ver as pessoas seguindo em filas para receberem a hóstia e a benção, como porcos caminhando para o abatedouro, me sentia péssima com toda aquela situação, me sentia péssima por eles, eu não me aclamava ateia, me via como agnóstica, eu não podia provar nada, mas não acreditava em nenhuma divindade, achava maior bobagem alguém acreditar em um deus que permitia que o mundo fosse como é, com guerras, ódio, caos, simplesmente não fazia o menor sentido para mim, religião deveria ser algo que fosse para pacificar e unir o mundo, não para o destruir, sempre houveram guerras sem sentido, pelo simples fato de certo povo não acreditar nos mesmos dogmas de outro , simplesmente não me fazia sentido, era como um caroço, que me sufocava, e eu não conseguia engolir.

O vento soprava forte, e maltratava meu cigarro, que queimava com ímpeto, ouvi as badaladas do sinos, a missa havia terminado, as pessoas saiam aos montes, e algumas caminhavam em minha direção, com seus filhos, família, amigos, e passavam por mim, alguns me olhavam de canto de olho, apenas para me pré-julgarem, eu não dava bola, e algumas crianças passavam por mim dando gargalhadas, naquele momento eu me senti muito sozinha, as crianças riam, e os adultos conversavam entre si, e eu me sentia estranha, algo faltava em mim, eu era diferente deles, por que eu não poderia ser feliz como eles? Por que não conseguia rir com eles? Sentia uma súbita vontade de chorar, minha visão estava agora encoberta de um fluido salgado, que desejava escorrer pelo meu rosto, e eu pensei para ele –Fique aí, não deixarei que ninguém o veja, então comecei a fitar meus calçados, para que não notassem meus olhos.

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