Agora com o cigarro aceso, caminhava para o parque,
gostava de ficar com o mesmo por um tempo parado na boca sem tragar, então o tragava
forte, e com a mão esquerda o tirava da boca, o que me era estranho, tendo em
vista que eu sou destra, o levava até a altura da cintura e batia as cinzas
suavemente, e mantinha a fumaça em minha e boca brincando com ela, até que a
expelia lentamente, eu a gostava de ver subir e desaparecer, e fui assim,
tragando até chegar no parque. O parque não era nenhuma maravilha, ficava em frente
à catedral, possuía alguns bancos com tinta desgastada, uma fonte no centro,
alguns brinquedos na areia para crianças, e tinha boa parte coberta por uma
grama sempre bem aparada, possuía também algumas árvores com folhas dissipadas
em seus galhos, já que a maioria se encontrava no chão, pois a chuva as levara
para lá, fui caminhando pelo parque através de folhas e gramas molhadas e
restos de industrializados até um banco que me dava visão completa da catedral,
sentei nesse banco onde eu podia observar de longe a missa, e acendi um
cigarro, usando o fósforo na mão esquerda também, me sentia uma a anticristo,
vilã dos bons costumes, impondo meus valores imorais e imundos em frente a uma
catedral.
Comecei a fitar a
igreja, e de minha distância eu podia ver as pessoas seguindo em filas para
receberem a hóstia e a benção, como porcos caminhando para o abatedouro, me
sentia péssima com toda aquela situação, me sentia péssima por eles, eu não me
aclamava ateia, me via como agnóstica, eu não podia provar nada, mas não
acreditava em nenhuma divindade, achava maior bobagem alguém acreditar em um
deus que permitia que o mundo fosse como é, com guerras, ódio, caos,
simplesmente não fazia o menor sentido para mim, religião deveria ser algo que
fosse para pacificar e unir o mundo, não para o destruir, sempre houveram
guerras sem sentido, pelo simples fato de certo povo não acreditar nos mesmos
dogmas de outro , simplesmente não me fazia sentido, era como um caroço, que me
sufocava, e eu não conseguia engolir.
O vento soprava forte, e maltratava meu cigarro, que
queimava com ímpeto, ouvi as badaladas do sinos, a missa havia terminado, as
pessoas saiam aos montes, e algumas caminhavam em minha direção, com seus
filhos, família, amigos, e passavam por mim, alguns me olhavam de canto de
olho, apenas para me pré-julgarem, eu não dava bola, e algumas crianças passavam
por mim dando gargalhadas, naquele momento eu me senti muito sozinha, as
crianças riam, e os adultos conversavam entre si, e eu me sentia estranha, algo
faltava em mim, eu era diferente deles, por que eu não poderia ser feliz como
eles? Por que não conseguia rir com eles? Sentia uma súbita vontade de chorar,
minha visão estava agora encoberta de um fluido salgado, que desejava escorrer
pelo meu rosto, e eu pensei para ele –Fique aí, não deixarei que ninguém o
veja, então comecei a fitar meus calçados, para que não notassem meus olhos.
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